José Rolão, de 28 anos, e Daniela Guerreiro, de 27 anos, são um casal de jovens que, em 2019, decidiu criar uma horta biológica nas suas próprias casas. Apesar de não terem qualquer formação em agricultura, os dois jovens conseguiram construir o projeto “Abelha 7 Trevos” totalmente do zero, através da aquisição de conhecimentos e experiências ao longo destes anos. Atualmente, no seu perfil de Instagram, partilham o dia a dia na horta e tentar mostrar como ter uma horta biológica está ao alcance de qualquer pessoa. José conta-nos tudo sobre esta experiência.
Como surgiu a ideia de começar este projeto?
Em 2019, a minha namorada, Daniela Guerreiro, estava a fazer uma investigação junto de consumidores éticos, mais ligados à alimentação, no âmbito da tese de mestrado. Eles falavam muito de hortas biológicas, de produtos biológicos, de colher o próprio alimento, ter alimentos frescos. E ela decidiu começar uma horta no quintal dela. Na altura, não liguei muito (risos). Só a ajudava de vez em quando, ia tirando umas fotos.
No final do ano, comecei também a ganhar o gosto e decidi também a fazer uma horta em vaso na minha casa. Depois, criei uma página com o intuito de vender apenas plantas. Ia publicando vários vasos, várias plantas e vendi muitas no OLX. Fazia as entregas ali na zona de Corroios, Almada, Seixal, Baixa da Banheira, Barreiro, que é a nossa zona de residência.
Passado um ano ou dois, então já com o nome de “Abelha 7 Trevos”, começámos a produzir conteúdo digital, mais no sentido de dicas, curiosidades, receitas, etc. O projeto foi crescendo. Hoje em dia, é apenas uma marca de criação de conteúdos, já não vendemos plantas, é um [projeto de ] lifestyle ligado à horta biológica. Nós estamos a criticar quem usa químicos, nada disso. Simplesmente, achamos que o caminho tem de ser este, o das hortas biológicas, e estamos ali a divulgar que é possível ter uma horta biológica em casa, sem grande preocupação, sem grandes problemas.
Como é conciliar o trabalho e, no caso da Daniela também os estudos, com a gestão da horta biológica?
A Daniela está a fazer a investigação dela de doutoramento, está no último ano. É bolseira da FCT, ou seja, está em full time. E eu estou também a tempo inteiro agora na DCE Loving Brands, que é a agência onde eu trabalho. A gestão do tempo é complicada – tem que se ser muito rigoroso. Acabamos também por reduzir o tamanho da horta para cerca de metade. Os nossos pais também ajudam um pouco, o que facilita, porque nós temos dois sítios: uma horta é na casa dela e a outra é na minha casa.
Em relação à criação de conteúdo, que agora é também muito o nosso foco, vamos trabalhando ao fim de semana. Eu tenho uma hora de almoço onde também arranjo ali um bocadinho para trabalhar. Depois, à noite, entre as 23h e a meia noite, trabalho também os conteúdos digitais.
Tu e a Daniela são formados em Antropologia, sendo que tu tens uma pós-graduação em Marketing Digital. Sentes que conseguem aplicar um pouco daquilo que é a vossa formação neste projeto?
Sim, bastante, e a vários níveis. Por exemplo, a Daniela agora está a tirar uma pós-graduação relacionada com consultoria aplicada à sustentabilidade. Temos recebido alguns tipos de parcerias, como por exemplo marcas de roupa. Ela é que está a gerir essa parte, avaliando essas parcerias para perceber se são plausíveis ou não. Nós defendemos os direitos dos animais, os direitos humanos, os direitos dos trabalhadores, etc., e isso para nós é fundamental. A tese de doutoramento dela é sobre marcas de roupa que se apelidam como sustentáveis e éticas. Então está tudo muito relacionado com o nosso tema.
Na minha vertente, ligada ao marketing, a formação que realizei permite-me alavancar a página de outra maneira. Antes de tirar a pós-graduação, já tinha estudado imenso esse assunto. Mas a pós-graduação deu-me outras ferramentas. Também o meu trabalho que agora é nesta área me tem aumentado imenso os horizontes.
«A importância da agricultura é extrema – penso que tem de haver uma educação tanto familiar, como na escola, nesse sentido.»
Para quem não tem formação em agricultura, é difícil ter um projeto deste género?
A fase em que tivemos mais produtos foi precisamente nos primeiros anos, em que tivemos excelentes resultados. E como é que nós aprendemos? Fomos ouvir os mais antigos – senhores e senhoras que conhecíamos, tios, amigos mais velhos. Pesquisámos muito na internet onde, hoje em dia, se encontra muita informação. É óbvio que, se quiser ter uma horta e se tiver uma formação na área de agronomia, de certeza que será uma mais-valia enorme. Mas não absolutamente necessário para se conseguir ter uma horta. Nós defendemos muito que basta começar por um vaso.
Sentem que esta ocupação é rentável para vocês?
Nunca foi autossuficiente, isso nunca foi. Quando vendíamos produtos, conseguíamos ter para consumo próprio e conseguíamos também ter plantas para vender. É óbvio que tínhamos de comprar coisas, muitas coisas. Mas, por exemplo, enquanto colhíamos as batatas, se calhar estávamos ali um mês ou dois sem ter de comprar batatas, ou quando colhíamos as alfaces, por exemplo então se calhar 2 ou 3 meses seguidos não precisávamos de ir comprar alfaces.
Quais são as vossas dicas para quem quer começar um projeto deste género? O que é necessário?
Um vaso, um bocado de terra e sementes, só. (risos) E força de vontade. Se vai correr bem ao início, se calhar não vai. Mas o nosso objetivo é demonstrar que pode ser simples. Nós fizemos a nossa horta sem saber nada, depois de pesquisar.
Qual é que consideras ser a importância da agricultura para os jovens de hoje em dia? Sentes que ainda é um assunto que não é muito discutido entre as novas gerações?
Não é, até porque, se formos ver a nossa média de idades no Instagram, está ali dos 30/40 até aos 60. Mas a agricultura é uma coisa importantíssima. Se calhar, também passa um bocado pela educação. Se calhar, nas escolas tinha que ser mais fomentado, nem que fosse uma disciplina onde se trabalhasse a agricultura, a pecuária, a sustentabilidade, tudo o que é preciso. A importância da agricultura é extrema – penso que tem de haver uma educação tanto familiar, como na escola, nesse sentido.
Quais os vossos projetos para o futuro?
Contamos lançar um livro dentro de 4/5 meses, talvez até antes. Vamos também estar presentes em alguns eventos presenciais. E queríamos muito transformar a “Abelha” num projeto no âmbito de incentivar as pessoas a ter uma horta, mostrando que é simples fazê-lo e que há possibilidades para qualquer pessoa.
Se tivesses de descrever este projeto numa frase, o que dirias?
Basta começar por um vaso.